sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O Braço de Ferro do Amor de Quem Não Ama

- O mundo dele é o mesmo que o nosso, mas sua realidade é diferente – disse o advogado do estrangeiro detido – ele vê com os olhos de uma criança desbravadora, mas sem a sorte da criança de poder criar e recriar tudo a todo instante sem regras ou travas.

- A linguagem que entende se faz com as mãos! Bradou o delegado residente interessado em crucificar o estrangeiro segundo os costumes greco-cristão-indígenas do Brasil.

- Palavras importam pouco em certas situações – retrucou o advogado - E tem horas que saber “banheiro” em umas 2 ou 3 línguas diferentes pode ser muito útil... Você sabe?

- Não sei e não quero saber! Não pretendo invadir a pátria de ninguém!

- Ele não invadiu. Os documentos estão em ordem. Pondere suas palavras... Cuidado com as acusações vazias, senhor delegado.

- Já que estava arriscando usar minha língua... Sabe por que está nessa delegacia?

Ele não entendeu uma palavra sequer, mas pelo tom do delegado sabia que deveria responder que não com a cabeça para não ter de tentar falar palavra alguma.

- Você infringiu a lei do idioma interno e da posse nacional. Não pode vir aqui e amar nosso país mais que a gente! Não pode achar tudo lindo se já tem o seu país para amar! Não pode aprender palavras de nossa língua e arranhá-las com seu sotaque fortíssimo criando assim a interatividade cultural sem aviso prévio!

- É ou não é revoltante quando encontramos esse tipo de gente?! Puxou o saco, o assistente do delegado.

- Mas eu não saber de nada dessa lei...Tentou defender-se ingenuamente o estrangeiro.

- Você entende ou não minha língua, porra! Só responde quando quer?!

- É por que é uma lei interna – explicou o advogado.

- Ou seja, tem de ser de dentro do país para conhecer! Afirmou o assistente do delegado.

- Mas tem de ser de fora para infringir – Explicou novamente o advogado.

- Defesa nacional, bradou o delegado. Defesa nacional!

Que povo cruel - pensou o estrangeiro ao ser extraditado para seu país de origem – são tão ricos, não se dão conta e ainda reprovam quem tenta lhes mostrar isso.

O estrangeiro queria apenas um lugar para acrescentar em sua vida, mas não seria aqui. Nunca mais.

O Advogado foi destituído de seus poderes legais de defensor público por ter perdido um caso e por ter atendido um extrangeiro contra sua própria pátria mãe.

O Delegado foi homenageado internamente pelas forças competentes e se tornou um exmplo a seguir.

O Assistente do Delegado foi morto pelas forças competentes por ter sugerido que para casos como esse não se repetirem era necessário que o povo brasileiro amasse suas riquezas e vê-las como tal, e deste modo essa lei (que ele não encontrou em arquivo algum) não voltasse a ser violada.

A Queda de Meus Ícones - O Nascimento de Minha Iconoclastia Latente


A Barba - Para os babilônicos um sinal de virilidade e os egípcios os copiaram, mas de modo ponderado e artificial. Desde o início dos tempos a barba tem seu lugar no imaginário mundial. O sinal do Homem, e por isso que o Cristo tal qual o conhecemos tem uma barba castanha e farta (mas sempre arrumada) e por conseqüência outros heróis e mártires (como Tiradentes) também são retratados portando longas barbas. E daí a imagem do “pai padrão” estava formada.

Conheci meu pai apenas no meu aniversário de 7 anos e por conta dessa ausência e de minha imaginação pra lá de fértil já imaginei deveras vezes minha mãe com uma barba gigante... Algumas vezes até tranças tinha.

Pois bem, lá estava eu de frente daquele homem gigante de pele clara e olhos verdes com uma barba preta que faria inveja ao Papai Noel. Disseram-me se tratar de meu pai. Essa figura emblemática que só conhecia através de meus amigos e de minha imaginação fértil. Todos acharam lindo aquele encontro... Eu achava estranho, não sabia o que fazer e com tão pouca idade não tinha muitas opções a não ser seguir os palpites empolgados dos espectadores, ou seja, em menos de 15 minutos lá estava eu sentado no colo daquela figura misteriosa e estranhamente carismática que me apresentaram como PAI.

Como me espetava aquela coisa que ele carregava na cara. Eu era novo pra entender muita coisa, mas decidi naquele momento que nunca usaria barba! A imagem que tinha de pai era mesmo essa de homem alto, barbudo e com ar sério na maior parte do tempo e muito divertido nas outras partes do tempo.

É claro que estava completamente enganado.

Ele ficou pouco mais de uma semana e desapareceu por mais um tempão. O expulsei de minha vida, pois minha mãe (mesmo sem barba) tem tudo que eu poderia esperar ou querer de um pai.

Sobre a barba... Parte obrigatória de meu visual largado.