sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DESABAFO EM PRETO E BRANCO


DESABAFO EM PRETO E BRANCO

Rio de Janeiro 28 de outubro de 1995

Oscar,

Em primeiro lugar tenho de dizer o que é muito difícil para mim: sentar e escrever essas linhas. Conhece minha timidez e por isso nunca teria coragem de dizer certas coisas olhando em seus olhos... Minhas pernas não me manteriam de pé e nem seria possível ouvir o que eu dissesse de tão baixinho e pra dentro que seriam minhas palavras.

Sei também que pode parecer estranho para você receber uma carta minha já que nos vemos praticamente todos os dias, mas por favor, não pare de ler antes de ter chegado ao final. Peço também que me desculpe pelo modo que direi o que tenho a dizer... acho que não sei escrever cartas. Já recebi muitas, mas esta é a primeira que escrevo. Sinta-se orgulhoso por ter essa em mãos.

Aviso ainda que caligrafia nem ortografia são meus pontos fortes, então desculpe qualquer erro. Meus pontos fortes são natação e vôlei, maratona no salão de beleza e corrida de obstáculo nas lojas em promoção.

Bom, vou começar a falar do que interessa de verdade: Você (ou seria nós?)

Sempre fomos amigos e você sempre me protegeu das meninas invejosas da escola. Sempre me deu atenção e nunca disse que meu cabelo estava feio (mesmo quando eu tinha certeza que ele estava) e sempre me trazia chocolate ou alguma coisinha gostosa pra comer (mesmo sabendo que depois eu ficaria reclamando de virar uma baleia).

Gostamos das mesmas coisas (ou quase todas) e nos respeitamos sempre. Mesmo quando brigamos, tudo acaba bem no mesmo dia, já reparou?

Acho que minha vida mudou quando uma noite eu sonhei que você me dava um beijo na boca na frente de todo mundo lá na escola. Um escândalo de beijo foi aquele! Acordei precisando de um banho, sabia? Nunca tinha sentido isto antes... nesta intensidade. Foi naquele dia que eu disse que tava com dor de cabeça na aula de história. Eu não tava nada, é que não conseguia parar de pensar em você e de tanto te olhar sentado lá na frente acabei não prestando atenção na aula, e para não levar bronca na frente da galera eu disse aquilo: “Ai professor, minha cabeça tá explodindo”. Na verdade quem estava pra explodir era meu coração. Desse jeito. Da noite para o dia eu estava total e completamente querendo você pra mim.

Tem sido difíceis os meus dias por que estamos sempre perto e não consigo falar o que quero. Sempre arrumo motivos pra você me tocar. Eu tropeço, escorrego, finjo que me distraí pra você esbarrar em mim... um monte de coisinhas assim. Parece coisa de gente tarada, mas é tão bom... são segundos mágicos, por favor não pense que sou doente nem nada assim. Eu apenas usei as armas que me ocorriam. É como dizem: no amor e na guerra vale tudo!

Procurei um monte de filmes que tinham uma história parecida com a nossa. Tinham poucos, achei mais livros, mas sabe que não gosto de ler muito e filme é mais prático, né?

Torci pra que nenhuma menina se interessasse por você antes que eu pudesse me declarar senão ia morrer de ódio. Tenho ciúmes de você e não consigo disfarçar, desculpa, mas não briga comigo daquele jeito que eu não aguento e choro.

Deixando a safadeza de lado (ai meu Deus, nem sei se vou ter coragem de te entregar isso), quero que saiba de umas coisinhas: sabe que além da timidez sou também uma pessoa teimosa e insistente. Quando quero uma coisa eu vou atrás com unhas e dentes, nem pareço eu. Outra coisa... não gostei muito do seu perfume novo, muito doce, não combina com o homem grande que você é. Quem te deu ele? Torço que tenha sido sua mãe. As mães só sabem comprar presentes enquanto a gente é criança, depois disso elas não sabem que tem que se atualizar pra ver o que tá na moda.

Pra minha primeira carta essa até que tá ficando grande. Também, falando tanta besteira...

Ok, vamos ao que interessa de verdade (já devo ter falado/escrito isso um milhão de vezes. Eu me repito muito), mas não vou me importar em repetir esse finalzinho (por que gastei umas cinco folhas de rascunho até chegar numa versão que eu gostasse), então lá vai:

Sei que é meu amigo, mas eu quero mais do que isso. Sinto mais que amizade por você.

Eu gosto de tardes ensolaradas, mas também amo correr na chuva. Não quero ter de escolher... eu quero o sol e também quero a chuva... eu quero o arco-iris!

Sei que corro o risco de fazer nossa amizade se abalar com essa carta, eu sei bem disto, mas confio que não terminará se você não gostar do que ler, pois somos amigos de verdade, daqueles que vencem os problemas e depois dão risadas... por favor não dê risada de mim! Ria pra mim e comigo, mas não de mim. Pode parecer que estou sendo um tanto egoísta, mas não escolhi te amar e a única coisa que poderia me fazer sentir culpa é de ter escolhido assumir pra você que te amo. Se você quiser eu assumo essa culpa, pois é a mais completa verdade: Oscar eu te amo, hoje e sempre!

Com amor (agora assumido),
João Marcos.

PS: Gostei dessa história de carta. Ficou bonitinha, com PS e tudo que tem direito.
PS 2: te amo.

O CASTELO DOS CINCO REINOS – A ORIGEM




“Existia há muito tempo atrás cinco reinos vizinhos de semelhante riqueza e poder. Todos muito belos e conhecidos, quase não havia contendas entre eles.

Um dia um nobre vindo de longe ficou encantado com a rara beleza que encontrou no ponto em que os reinos se tocavam. Conversou então com cada um dos reis para lhes comprar um pedaço da área para erguer ali um suntuoso castelo para vir morar com sua esposa e filhos. Disse ainda que poderia servir de mediador em caso de contendas entre os reinos e que cederia o castelo como ponto neutro para a resolução das mesmas. Todos venderam.

Depois de poucos anos estava erguido o Castelo das Cinco Torres, pois tinha torres em casa extremidade voltada para o reino vendedor.

Trouxe então sua família para morar ali: sua esposa Amélie, seus dois filhos e trés filhas. Houve um baile para comemorar o fim da construção e mudança para o novo castelo da região – ou das regiões. Os reis foram convidados e levaram suas rainha, seus príncipes e suas princesas. Como era de se esperar cada filho do nobre fez par com um príncipe ou princesa. E foi aí que começaram as divergências:

Os cinco casais apaixonaram-se de imediato – quase que por mágica – e os pais discutiam por coisas pífias como a data para cada casamento, onde morariam seus filhos
e coisas assim que cabiam aos apaixonados resolverem e não seus pais.

Casaram-se todos no mesmo dia e mudaram para o castelo.

Os reis estavam velhos e toda a agitação de combater uns com os outros pelo direito o primeiro príncipe herdeiro os fatigou demais. Os filhos pararam e falar com os pais até que numa manha como que por obra de uma magia rum, os reins não acordaram mais. Os cinco morreram na mesma noite!

Consideraram então os novos reis que este castelo havia amaldiçoados todos os reinos. Tiveram seus filhos e ficaram com medo dessa maldição também estar nas crianças, deixaram-nas então sob os cuidados do velho dono do castelo e desapareceram da terra em busca de felicidade longe dali... Os tronos ficaram vazios!

Muitas pessoas diziam que era obra de bruxaria, outros diziam que seria melhor assim, mas o povo precisava de alguém que os governasse. Nasceram para erem liderados... Foi a partir daí que o Castelo das Cinco Torres passou a se chamar Castelo dos Cinco Reinos, pois aqueles cujas cabeças assentam as coroas reais moram todos no mesmo castelo e há quem diga que dividem a mesma sala do trono!”

Melanin não conseguia acreditar na história contada pelos aldeões de Patsarga, mesmo por que não existem mais reis ou rainhas há séculos, atualmente vivem o tempo dos Prefeitos e Conselhos, mas a fábula é unânime: O castelo está lá e não está vazio...”

Demorou seis dias para chegar até a última vila antes do castelo por conta de uma chuva que não parecia terminar nunca. Normalmente ignoraria isso e chegaria molhado,mas levava consigo seu valioso bandolim de carvalho e não poderia perdê-lo.

Já conseguia ver ao longe o castelo e ele é de fato magnífico. Só então que Melanin reparou que chovia apenas sobre uma das torres do palácio.

“Será mesmo o castelo amaldiçoado? Deste modo Nancy só pode ser um fantasma!” pensou ele logo afastando este pensamento. “O povo é fácil de enganar com histórias fantasiosas, eu sei bem; vivo disso.”

Escondeu seu valioso instrumento num buraco rochoso e o cobriu com folhas e lascas de árvore, para não estorvar no caso de precisar sair correndo de lá.

Pensou nas intermináveis piadas que seu amigo historiador faria dele quando soubesse que estava apaixonado por um fantasma - que é coisa que nem existe!

- Bom, se for um fantasma terei de morrer, pois de um modo ou de outro eu a amo e não vou voltar!

E mais uma vez Germano Melanin estava se lançando numa empreitada maior do que sua impulsividade o permitia calcular. Rumava com passos firmes na chuva fina até o
Castelo dos Cinco Reinos.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O CASTELO DOS CINCO REINOS (Parte 2) - O RETORNO DE MELANIN


“Existem homens que dizem que não há nada mais difícil que entregar seu coração e fazer deste morada de outro... Mas diz isto apenas quem não teve de tomá-lo de volta.”

Germano Melanin, menestrel errante



Depois de exaustivos meses Melanin repleto de marcas, banhado de lágrimas alheias e envolto num manto de maldizeres retornou a Emessyne, onde ocorreu a feira de inverno e onde conheceu Nancy, a nova e eterna senhora de seu querer. Contrariando todos os intempéries de sua jornada, estava contente, cantava feliz e tocava em seu bandolim suas novas harmonias de amor.

Quando perguntou pela lady a quem procurava, disseram-no que ela não morava em Emessyne, vinha apenas com a família para as festividades.

- Ela não mora muito longe daqui - disse o organizador da última feira - Conheço todos que alugam os chalés para o evento.

- E foi o caso da família dela? Perguntou o ansioso menestrel.

- Sim, foi alugado um chalé para sete pessoas do Castelo dos Cinco Reinos.

- Castelo dos Cinco Reinos? O que é isso?

- É onde mora a jovem Nancy. Fica a três dias a cavalo daqui seguindo para o leste.

E para o leste ele foi. Sabia que levaria quase o dobro deste tempo, uma vez que iria a pé, mas não importava, pois finalmente teria o que veio buscar.

Enquanto isso distraía-se com mais versos e acordes.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O CASTELO DOS CINCO REINOS (Parte 1)


Depois de longos anos errando pelo mundo, Melanin, o menestrel, finalmente foi alvejado pelo amor narrado em suas histórias e canções.

Numa feira de inverno conheceu Nancy, uma moça jovem, bonita e curiosamente inteligente. Mais curioso foi uma lady dar ouvidos e confiança para um menestrel sem chão.

- Não posso levar adiante esse flerte, cara dama, pois não tenho posses para quando quiser algo a mais... Além de meu coração - sentenciou o menestrel com sincero pesar.

- É rico de sensibilidade com o mundo e com as palavras, além de ser muito bem sucedido na escolha de seus contatos e de sua colocação ante eles, logo se nota – reagiu a moça - Todos gostam de tê-lo por perto e não há um ambiente que passe sem deixar estampado um sorriso em alguém. Ao meu ver é um afortunado sem igual.

- Sou? Perguntou incrédulo o artista.

- Se não tem posses não tem dívidas, logo não está preso a nenhum fisco ou lugar e também não tem dores de cabeça por não poder banquetear essa ou aquela noite.

- Sim, é verdade, mas também não tenho chão, meus pés não fincam em terra alguma, precisam andar, conhecer novos solos...

- Senhor Melanin, os homens não nasceram com amarra alguma além daquela que o prendia a sua mãe, mas que ainda assim foi cortada nos primeiros momentos de vida para ensinar que o homem nasceu para ser livre. Não nascemos para nossos pais, mas para o mundo e para nós mesmos.

- É muito estranho, e bonito, se me permite dizer, ver uma mulher falando assim, nem parece parte deste mundo, deste contexto em que vivemos...

- Bondade sua dizer isso.

- Não... Na verdade sou um homem vil.

- Todos somos um pouco vis, mas achamos ruim admitir certo egoísmo ou maldade.

- Verdade, o homem não é como a folha de pergaminho que tem apenas dois lados - concordou deixando de lado a apreensão e assumindo o lúdico embate filosófico - O homem é como o abacaxi: multifacetado, cheio de ondulações e texturas e o mais importante; é o rei de si mesmo até encontrar alguém a quem queira bem, quando então perde a coroa, mas não deixa para trás o amargor e a doçura de ser quem é.

- Então senhor Melanin abacaxi, quer seguir em frente ou voltar a errar sozinho?

- Para não trair o que pode estar nascendo aqui, devo confessar por fim que não tributo minha vida a deus algum. Não existe força invisível acima do céu, abaixo da terra ou dentro dos mares que guie meus caminhos, olho para um lado e vou para lá até ter vontade de ir para outro.

- Deus está fora, mas também está dentro. Não me importa que não lhe tribute crédito algum desde que não me impeça de vislumbrar a altura do céu, o calor da terra e a profundidade do mar. Escolhi acreditar, mas aprendi a respeitar.

- Está rivalizando em palavras comigo, não sei o por que, e embora tenha pensado em coisas melhores para dizer, aprendi que às vezes é melhor perder. Se for sincero o conteúdo além da forma, se há aqui realmente um sentimento acontecendo, direi o que farei e correrei o risco de estar sendo ludibriado por uma contadora de casos tão boa quanto eu: Voltarei pelo mesmo caminho por onde vim até aqui e tomarei de volta cada pedacinho de meu coração que deixei cair ou arrendei por aí e voltarei completo para você... E se quiser lhe entregarei ele inteiro!

- Está bem, muito justo e honrado de sua parte, não quero trocar pedradas com seu passado, entretanto não vou querer seu coração para mim, prefiro que fique com ele e consiga não dá-lo a mais ninguém.

- Uma prova...

- Não, apenas não quero ser como o cordão materno que já perdeu, não quero te prender. Quero que se ligue a mim por querer e por sentir apenas.

- És forte e doce como o mais saboroso dos vinhos e atrevo-me a dizer que não sou fraco para bebidas, mas já estou um tanto embriagado por você. Peço apenas que me aguarde, pois voltarei com o cálice para brindarmos nosso enlace. Aqui, lá onde estarei ou no meio do caminho.

Ele beijou aquela mão perfumada, fez a corte e partiu contente por encontrar alguém por quem perderia sua coroa.

ENTRE A CRUZ E A RISADA... EU RI.









Obrigado ao pessoal do NÃO SALVO e do PROCURANDO VAGAS de onde baixei (copiei descaradamente) as imagens.

APOSTAS E PROMESSAS



- Estou cansado de minhas promessas não cumpridas e as cobranças sobre elas...
- Então pare de prometer e tente cumprir as mais fáceis primeiro.
- Boa ideia! Te prometo que vou parar de fazer promessas... Ah, essa não vale, vai.

domingo, 8 de agosto de 2010

Coleção Pirelli Masp de Fotografia 18º Edição

A Coleção Pirelli/MASP de Fotografia chega a sua 18ª edição com 70 obras de fotógrafos de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pará, além do norte-americano George Leary Love, que atuou em São Paulo dos anos 60 aos 90 e receberá homenagem póstuma ao lado de Luiz Hossaka.

A fotografia paulistana traz, nesta edição, o publicitário Ricardo Barcellos, a fotojornalista Marlene Bergamo e Gustavo Lacerda, com obras da série Albinos, de 2009. O uso de recursos tecnológicos na fotografia está contemplado pelo trabalho dos fotógrafos Rafael Jacinto, Pio Figueroa e João Kehl e da produtora Carol Lopes, do estúdio Cia da Foto.

Nesta edição os fotógrafos Luiz Braga, do Pará, e Aristides Alves, da Bahia, foram convidados a indicar os artistas de seus estados: os paraenses Alberto Bitar, Octávio Cardoso, Mariano Klautau Filho, Alexandre Sequeira e Guy Veloso – este último, fotógrafo selecionado para a 29ª Bienal de São Paulo com a série documental Penitentes – e os baianos Anizio Carvalho, Iêda Marques, Bauer Sá e Maria Sampaio – fotógrafa e escritora falecida em junho passado.

Desde sua criação, em 1990, a Coleção traz artistas com representação e influência significativas na fotografia brasileira, escolhidos por uma comissão formada por Boris Kossoy, Thomaz Farkas, Rubens Fernandes Junior, Mario Cohen e Piero Sierra.

O MASP é aberto de terça a Domingo das 11:00 ás 18:00 horas as quintas até as 20:00 hrs, entrada custa R$ 15,00 reais e nas Terças Feiras é GRÁTIS

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A SOLETRADA HISTÓRIA DE OYAÊ

I-N-Í-C-I-O
Era uma vez um menino que não tinha nome por que seus pais eram muito pobres e não podiam pagar nem mesmo duas letrinhas de cartório... Ele juntou forças e foi trabalhar na roça de um fazendeiro rico para ter um nome só dele.

Trabalhou bastante mas só recebia algumas moedas por semana por que seu patrão dizia que ele estava devendo a moradia, a comida, a roupa... Como era um bom moço, não queria ficar endividado e pagou tudo que seu patrão disse. Precisou de dois anos de trabalho juntando moedinhas para conseguir comprar um nome. Escolheu o nome mais bonito que já tinha ouvido na vida: Sebastião.

Não tinha sobrenome. O dinheiro não deu pra tanto, mas Sebastião pensava esperançoso: “daqui há uns oito anos...”

Dois meses se passaram e Sebastião descobriu que seus pais morreram de uma febre que mata os velhos todos de onde veio. Eles eram pobres e não tinham dinheiro nem para os caixões e enterros decentes. Dada a urgência e não havendo outro modo, Sebastião vendeu parte de seu nome para enterrar seus pais. Depois daquela tarde quente de fritar ovo ainda na galinha ele saiu entristecido para a cidade procurar emprego e começar uma nova vida.

Elá foi tião (com t minúsculo mesmo) pisando nas dores, saindo do lugar onde cresceu, mas que nunca foi seu.

Até os tropeiros do caminho diziam '”Tchau tião, vai atrás de otro chão”

E ele foi.


D-E-S-C-O-B-E-R-T-A
tião fez dinheiro rápido na cidade por que era muito forte. Ele era aplicado, mas o trabalho era bem pesado. Gente da cidade trabalha em escritório, mas a pessoa que é é forte e vem de fora logo arruma emprego e dinheiro como peão.

Aprendeu que peão tem abaixo o trabalho e acima o patrão.

Um dia descobriu que isso não era bem assim, pois seu patrão que era da cidade também era peão de alguém, porque também tinha um patrão.

Um dia sofreu um acidente de trabalho e teve de ir ao hospital. Para distraí-lo da dor seu patrão puxava conversa de tudo até falar de seu próprio patrão que veio de origem humilde como tião. Contou que seu patrão quando moço era muito doente e ia morrer, mas uma preta velha benzedeira ensinou que se conseguisse trocar o nome por um de sorte, só o nome velho morreria. tião quase teve um troço quando descobriu que o patrão de seu patrão se chamava Sebas. Senhor Sebas.

Daí pra frente sua cabeça nunca mais foi a mesma. Endoideceu, coitado. Sua memória ficou tão eficiente quanto um pisca-pisca velho.

Nunca mais voltou para aquele emprego. Saiu sem rumo dizendo que ia voltar pra roça onde as galinhas já botam ovo cozido de tão quete que é.

E foi.


M-E-L-A-N-C-I-A
Existe um bairro no subúrbio de São Paulo dominado pela criminalidade. Um lugr onde a justiça é feita pelos próprios moradores, sejam os integrantes de gangues ouos injustiçados justiceiros. Um lugar onde se more por olhar alguém no rosto, onde se é espancado por falar ou pregar sobre Deus, onde se é expulso se for estrangeiro, gay, poeta ou carteiro.

- Poesia de cu é rola!
- Carteiro tem boa memória pra gravar rua e nome. Pode ser policial ou se juntar a algum deles.

Aí cresceu Elisabete, menina pobre, filha de puta com pastor evangélico. Até os dez anos andava com freio de cavalo improvisado na cara para olhar só para frente e ainda assim de cabeça meio baixa.

Numa noite a mãe de Elisabete estava drogada e numa crise de arrependimento e raiva, atacou acriança comum melancia na cabeça!

A menina sangrava muito e uma vizinha se ofereceu a levá-la a um hospital, mas não seria de graça: ela cobrou e conseguiu uma parte do nome da menina que ao acordar no hospital já atendia apenas por bete (com b minúsculo mesmo).

Sua vizinha Elisa (que nome bonito pensava a menina) disse para a menina que os injustiçados justiceiros atacaram sua mãe pelo que ela fez e daquele dia em diante bete seria criada como a oitava filha de Elisa.

A menina senti-se a pior coisa do mundo e para não sentir-se assim, se desligou dele. Passou a ser a pessoa mais distraída que aquele estado já viu.

Cresceu então feliz.

Alheia ao mundo, mas feliz.


O M-E-N-I-N-O
A TV está ligada e um fruta chacoalha freneticamente em cose ao som de uma batida forte e uma letra repetitiva.

Era outra vez um menino chamado “menino”. Esse não era seu nome de verdade, justamente por ele não ter nome nenhum e ninguém ter se preocupado em lhe dar um.

Seu pai era muito esquecido. Um dia foi comprar sorvete e esqueceu de voltar pra casa. Esqueceu que era casado e juntou-se com uma mulher. Esqueceu que sua primeira esposa esquecida já havia lhe dado um menino e colocou o nome de seu novo filho de Júnior. Um dia esqueceu de acordar e foi enterrado como morto. Esse nem é o verdadeiro final da história dele, mas devo confessar... Esqueci.

Sua mãe – só pra fazer um par perfeito – era muito distraída. Um dia voltando do trabalho nem notou que o sinal estava vermelho para ela e nem havia notado que as buzinas queriam chamar sua atenção. No banco sempre ficava indignada com o apito da porta por conta da platina em seu joelho depois do sinal vermelho. Usava roupas de inverno no verão e comia queijo e goiabada sem goiabada. Um dia lhe disseram que sua bolsa rompeu, e nem se dando conta de que estava grávida de nove meses foi a uma butique comprar uma bolsa nova! Levaram-na a um hospital e ela teve um lindo menino
que nem se deu conta dele ter batizado com nome algum. Um dia foi a quitanda no centro da cidade e levou embora pra casa em seu carrinho uma pequenina melancia enquanto seu menino chorava de fome numa prateleira de frutas, pois ela nem se deu conta de que ele tinha fome.

Dali pra frente estes três nunca mais se veriam, mesmo por que o filho não os reconheceria, o pai teria esquecido que é homem e estaria vestido de Carmem Miranda HiTech, já a mãe veria as frutas na cabeça dele e ficaria com a sensação de ter que lembrar de algo,mas logo teria sua atenção voltada para uma embalagem qualquer de doce no chão. Assim fica mesmo difícil!

O dono da quitanda bem que tentou devolver o menino a sua mãe, mas como ela já o havia esquecido em outros dezessete lugares, ele decidiu trocar o menino por outra melancia.

O quitandeiro Manoel decidiu ainda não colocar nome nenhum no menino para o caso de não confundir a criança quando e se a mãe dele voltasse. Além de não ser filho seu para ter de fazer uma escolha tão importante.

Chamava e Menino Melancia, ou só MM.

Quando já era grandinho para entender as coisas, Menino pediu para não ser chamado de Melancia. Menino só tá bom.

O sonho secreto de Menino era ter um nome, então pesquisou e descobriu que o lugar onde se ganha nomes é no cartório. Arrumou então um estágio no Cartório Local para conhecer vários nomes e escolher o mais bonito ou invetar um só para ele.

A vida é cheia de descobertas e a que mais animou o já rapaz Menino foi a seguinte: As pessoas jogam muitas coisas fora. Tá, e daí? Da´que ele decidiu que é dessa forma – pegando o que os outros jogam fora que teria um nome. Cada letra, nome do meio ou sobrenome que as pessoas recusassem, ele pegaria.

- Bom dia qual o nome da criança?
- Edmundo.
- Hum... D mudo não é mesmo?
- É sim.
- Eu poderia ficar como i que você não quer?
- O quê?
- O i de “Edimundo”, digo Edmundo.
- Tá, tá, mas anda logo que ainda vamos ao shopping hoje.
- Tá. Obrigado pelo i.

E a pessoa saía pensando: “coitadinho desse aí, não bate bem”.

Um dia quiseram batizar uma menina de Karlla Kamylla – com K, Y e dois L em cada nome! Que barganha foi esse dia! Depois de uns palavrões o nome ficou com um K só em Kamila que inclusive perdeu o A ficando Kmila e com um L só. Esse dia ganhou um K, um A e dois L.

Depois de seis meses no emprego, apesar de achar muito divertido por conta os mais variados nomes que conhecia, o Menino pediu para sair.. Fe suas contas, pagou o ue devia e com o ue restou aida conseguiu comprar o nome que havia escolhido só pra ele. Daquele dia em diante se chamaria Otoiatro Yracemo Aurelino Elviro Braulino Ferrolho Doravante Pinto Onofre Otonogildo de Kall Júnior. Mas no final as pessoas não acreditavam que era seu nome de verdade ou não conseguiam decorar tudo isso. Ele decidiu então abreviar os primeiros e criar um apelido universal: Oyaê.

- Mas me diz uma coisa – começou seu ex patrão ao registrar o quilométrico nome.
- Diga – respondeu super contente Oyaê.
- Júnior não quer dizer que o nome é igual ao do pai?

Oyaê ajeitou-se na cadeira e respondeu triunfante:
- O Júnior, só quer dizer que já tive um.

Pela persiana 42

Ela passa como todos os dias em frente de sua sala no escritório de finanças. Será que sabe que ele não tem um apartamento a beira mar como os demais gerentes da empresa, ou que seu carro luxuoso veio de um leilão e que o está quase falindo manter? Creio que não.

No início do ano eles nem sabiam da existência um do outro e agora ficam aí brincando de “A Lolita e o Doutor”. Chega a ser engraçado o modo como agem. De fato, se eu já não a estivesse observando antes nem notaria o que ocorre entre ambos, assim como os demais funcionários da empresa.

Ambos casados. Ele com uma dentista bem sucedida, se é que se pode chamar de bem sucedido alguém que estudou anos a fio para enfiar a mão na boca dos outros e sentir toda sorte de hálitos existentes. Ela casada com um professor. Mais velho que ela uns quinze anos. Apesar de negar, não duvido que tenha sido seu professor e que ela o seduziu. Professor de química... Onde já se viu se apaixonar por um professor de química? Acho que é o tipo de cosa que os caras só estudam para poder se dar bem com as alunas que vão mal.

Ela entrou na empresa como estagiária há uns meses e subiu para secretária muto rápido em relação as últimas estagiárias que já vi subir... Creio que o que subiu mesmo foi aquela linda saia azul marinho...

Bom, eu nem preciso me esforçar para vigiá-los. Ela passa aqui perto sempre com um perfume muito delicioso que quase me puxa atrás dela. Esteja fazendo o que for, tenho de parar para vê-la passar e ficar imaginando se o cara sortudo ali já a conheceu a fundo.

Um dia o vi entregar um cartão romântico a ela. Sei que era romântico, pois ela fez cara de besta tentando disfarçar a própria cara de besta. Deve estar apaixonada por ele. Coitada. Se tivesse visto ele “brincando” com a moça da limpeza no fim de semana passado... O cara também não perdoa nem as 'tias” da limpeza... Espeto!

Ele tem sorte... Já eu... Eu? Eu não tenho nada nem ninguém para dividir o nada que tenho. O apartamento é alugado, os ternos de segunda mão, carro não tenho nem nunca vou ter, mas aí já é escolha pessoal e não incapacidade... tá bom, um pouco dos dois,mas é mais a falta de vontade!

Passo horas pensando como é que Deus pode dar tanta coisa para as pessoas que não sabem aproveitar... Será que ele não vê que tem gente que aproveitaria melhor a vida com melhores oportunidades? Não vou brigar com Deus, claro que não, Deus que me livre. Ele sabe o que faz...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

LÁ E DE VOLTA OUTRA VEZ

Inicio minha retomada deste blog justamente fazendo propagandasdedois outrosblogs de minha autoria:


GATO AMARELO (http://gstoamarelo.blogspot.com/): Falasobre gatos (tenho três), de modo geral, terá texztos, poesias e notíciaissobre estesseres tãoenvolventes. e acho que o ponto principal será a parte de linkar outros bblogs e sites que colaborem com a adoção, castração e cuidados adequados para melhorar a qualidade de vida destes animaizinhos... As sete!



E...

SAGRADO SILVA: (http://sagradosilva.blogspot.com/): Que é uma espéciede Diário de Bordo não lineare não cronológico sobre a experi~encia de ser pai de primeira viagem. quem se derrete vendfo fotos de beb~es e lendo histórinhas melosas de lições diárias, seja bem vindo.




Veremos até onde isso vai...

MAIS MÍOPE DO QUE NUNCA


Oi gente,

Estou de volta.

Irei levantar o Miopia Virtual mesmo que a passos lentos.

Obrigado para as pessoas que me cobraram isso e as pessoas que não cobraram, mas que sei quer liam e lerão.

Em breve nova fornada de textos por aqui!

Assim como o Mário, estou indeciso de por onde começar.

Até breve e
"sorriam, pois ainda é possível fazê-lo"


(Saudades de escrever isto).